Meu vizinho criava passarinhos. Ele os alimentava, limpava suas gaiolas e passava bastante tempo com eles. Ele adorava quando os ouvia cantar e parava tudo o que fazia para ouvi-los.
Um dia o questionei porque tomava tanto cuidado na hora de limpar a gaiola e ele me disse que era porque tinha que ficar atento, pois se bobeasse eles fugiam e nunca mais voltavam.
Meu pai cria passarinhos, mas ele não tem gaiolas: tem um quintal. Neste quintal ele plantou árvores e muitas plantas e colocou até uma tábua pendurada por uma corda na qual ele pode colocar frutas e ergue-lá até o alto para que os passarinhos possam comer.
No início demorou para que os pássaros tomassem confiança, mas hoje, todos os dias que você visitá-lo verá pássaros no quintal inteiro, cantando muito mais e muito mais alto e feliz que os do meu vizinho. Verá os passarinhos andando no chão perto dos pés dele.
Estes pássaros não estão engaiolados. Não estão presos. Estes pássaros tem a liberdade de ir embora e deixá-lo para sempre quando quiserem sem ao menos o avisar. Ele os deu tal liberdade. Mas os pássaros não vão. Todo dia estão ali, cantando felizes e seguros.
Quando se sabe que se pode ir embora quando quiser aumenta a vontade de ficar e perde-se a emoção da fuga.
Somos como os passarinhos.
Reescrito dia 04/08/2010.
Foto de Miled