segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Marmelada

– Mãe, você já comeu marmelada?
– Uma vez, quanda era criança e achei ruim!
– Hum...
– É quenem goiabada.
– Eu já comi também!!! – gritou o pai de longe.
– E ...?
– Achei ruim.
– Mas como que é.
– É quenem goiabada, só que de marmelo.
– Hummm. E o que é marmelo?
– É uma fruta assim um pouco menor que um melão.
– Humm.
E esta foi uma das poucas vezes em que ele associara marmelada a uma coisa concreta, um doce. Um doce que ele nunca viu nem provou, de uma fruta que ele nunca viu nem provou.
“É marmelada! É marmelada! É marmelada...” tomou conta de sua cabeça e voltou a ser somente um substantivo abstrato.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Eu realmente não entendo os homens.

 
– Eu realmente não entendo os homens! E depois eles dizem que a gente é que é complicada. Eles dizem que as mulheres são seres complicados, que não vão direto ao ponto e nunca sabem o que querem... Generalizando eu também acho isso, mas no fundo eles também são assim. Se você reparar eles na verdade são tão falsos quanto as mulheres pois vestem uma máscara quase que o tempo todo. Esta casca que os recobre é na verdade a máscara da simplicidade, que esconde o ser confuso e complexo que são de verdade. Acho que é isso: todos são complicados, homens e mulheres, mas a diferença é que as mulheres não escondem isso (talvez não consigam).
...
Mas afinal, o que eu tenho de errado? Quase tudo que os homens reclamam das mulheres eu não faço. Reclamam que elas são falsas: eu não sou, falo tudo o que penso. Não fico mentindo só para agradar. Chamam as mulheres de frescas, mas eu não tenho frescurinhas, odeio isso! Dizem que elas são sem atitude. Pois eu costumo ter mais atitude do que muitos homens! Sexo frágil rs, isso não vale para todas não. Pois mesmo eu sendo exceção a todas estas reclamações, não era para eu não ter problemas com os homens?

– É, mas na verdade a coisa não é tão simples assim. Muitos homens reclamam sim destas características da maioria das mulheres, mas não sabem o que fazer quando não encontram isso numa mulher. Você tem que ver que os homens são tão inseguros quanto a maioria das mulheres, e as vezes até mais. Eles só fingem que não são, mas são. Eu sei. É a tal casca que você falou. A maioria deles é tão assustado quanto uma menininha, mas só não deixa transparecer. Por isso, este tipo de homem procura afinal de contas uma mulher típica que você descreveu: Pequena, frágil, meiga, envergonhada, sem atitude, amedrontada e toda fresquinha.

– Ué, mas porque se afinal de contas eles mesmo reclamam tanto disso?

– É que os homens precisam sentir-se homens, e principalmente aqueles que não estão tão seguros de si, uns 98% deles eu acho, precisam ser o braço forte da relação, precisam ser o protetor, o desinibido, o resistente, o destemido, etc. Afinal, o que seria de um homem se não pudesse reclamar das mulheres que estão com eles?

– Feliz!?!?

– Seriam se não fosse por esta incapacidade deles. Principalmente se a mulher tem mais atitude do que o cara, aí é que ele se assusta e espana.

– É, aí ele ainda tem a audácia de falar mal da gente dizendo que somos atiradas. Urrrgh!

– O homem tem que se sentir útil, afinal se você resolver o problema por ele, qual a utilidade dele? As vezes você tem é que deixar que ele resolva por você.

– Pra daí ele poder dizer "se não fosse por mim...."

– Exatamente amiga. Ele precisa dizer isso.

– Em vez de ficar tranquilo de ver que a gente sabe se virar.

– Pois é.

– Então é por isso. Este é meu problema. Eles fogem de mim por minha espontaneidade, por ser decidida, por não ser frágil e por ter atitude. Eles no final acabam procurando uma mulher fragilzinha e fresquinha pra que eles possam proteger.

– Mas calma amiga, tudo tem solução. Uma simples fingidinha engana eles totalmente e lá ficam eles todos satisfeitos da sua masculinidade hahaha.

– Fingir?

– É... fingir mesmo. Eles acreditam em qualquer coisa mesmo então a gente finge. Se você quiser mais homens, terá de fazer isso.

– Tá, fingir que tenho um pouco mais de vergonha até dá contanto que ele não enrole muito para agir, mas a falta de atitude é que eu não aguento e não vou conseguir fingir, com certeza não vou aguentar aquela lenga lenga e vou tomar a atitude de uma vez.

– Mas aí você estraga tudo! Olha, me escuta amiga: Se você quiser estes homens que eu disse você vai ter que se fazer de frágil e envergonhada. Você vai ter que dizer não quando for sim... ou melhor ainda.... diz não sei quando for sim. Vai ter que se fazer de difícil para ele se sentir potente em te conquistar mesmo que os dois estejam desde o começo querendo a mesma coisa.

– Mas não seria muito mais fácil se ambos fossem sinceros e mostrassem que querem a mesma coisa e não perderem tempo com essa chatice?

– Claro que sim. Mas quem disse que os homens são lógicos?

– Eles!

– Tá, eles dizem isso, mas não é verdade. Se eles fossem racionais vocês pulariam toda esta etapa de chatice. Mas sabe o que acontece se você tenta pular esta etapa de chatice?

– Eles fogem!

– Isso!

– Aff....

(...)

– Mas você também sabe que a gente tava falando dos homens em geral né mulher. Falando da maioria, generalizando. Assim como você é exceção às mulheres, entre os homens também existem as exceções. Hummm, e esses....

– Ah é? (interessada)

– É.... e te digo que estes são os melhores?

– Sim, porquê não tem toda esta enrolação e fingimento.

– Não só por isso bobinha, mas eles são melhores mesmo!

O..O

– Porque, em primeiro lugar, os homens que fogem a nossa descrição anterior são os que não são inseguros de si.

– É verdaaaade.

– E nada como um homem seguro!

– E aí pra eles eu não teria de fingir?

– De jeito nenhum! Seria uma heresia fingir para eles! Porquê eles já estão seguros de si. Então não precisam que você seja fragilzinha e indefesa para se sentirem bem, pelo contrário até.

– A é?

– É... fora que eles tem uma pegada muito melhor. Deve ser por causa da segurança deles.

– É, mas este lance de pegada não sei não... me parece papo... já ouvi muito isso mas nada que comprovasse.

– É difícil de explicar.... só vendo pra crer.... Ui... arrepiei olha!

– Mas você também né!

– Mas sabe... estes homens.... são melhores sim.... alguns conseguem muitas mulheres até... mas no fundo eles preferem e procuram mulheres como você!

– A é?

– Aiiii!! Para com esse seu "A é" que tá me irritando!

– Tá, desculpa.... mas então eles procuram mulheres sem tanta fragilidade, sem tanta frescura ou vergonha?!

– Sim! Muito melhor para eles... dá bem menos trabalho sobra tempo pro resto...
Mas isto são pontos positivos, por que o que eles procuram mesmo é atitude!

– Mas é justamente a atitude que eu acho difícil de abrir mão!

– Pois então amiga ...

– Ahh háa... eu fico com o meu "A é?" toda hora mas você não para com o "amiga"

– ...

– Tá bom, mas continua o que você tava falando quando eu te interrompi.

– Eu tava falando???... Ahh é!!!

– HAHAHA!

– Foi de sem querer essa, mas é que eu lembrei o que eu ia dizer: Você pode ir fingindo aqui e ali e conseguir muitos homens, afinal você é linda amiga! (e eu vou falar amiga siiim). Mas aí você também dificulta muito que estes homens exceções descubram você. Oooou... você continua com atitude, vai continuar assustando um ou outro inseguro mas vai achar muito mais destes homens seguros.

– Mas e o que é que eu faço? É isso mesmo que eu faço!

– Táaa.... mas o que você tem que aprender é identificar estes caras no meio do resto, e aí que vem a parte mais difícil...

– Mas você sabe?

– É difícil, mas eu te ensino!

...

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Apaixono-me

Apaixono-me.

Me apaixonei, embora saiba que isto é errado.
O certo é apaixonar-se, mas EU me apaixonei!
Pois o sentimento é meu e sou eu quem sei.
E afinal, qual é o mal de estar apaixonado?

Guilherme Andere. 26/08/2009

terça-feira, 15 de junho de 2010

Olhar para o Céu

Me defino como um observador. Observo as coias da vida e aprendo com elas. Aprendo observando, as vezes só observo, mas o que importa é que observo. E todos os dias eu olho para o céu no por do sol, no mínimo.

Esta foi uma mensagem de celular escrita a uma amiga no começo do ano:

"Um dia seremos velhos, o céu já não terá mais a mesma tonalidade azul que em muitos lugares ainda tem e eu direi a um jovem para olhar mais para o céu enquanto ainda tem algo a se ver e ele retrucará dizendo que eu só olho bastante para o céu por ser velho. Então, alguém se lembrará das mensagens que mando nos dias de hoje e dirá ao jovem que não, que eu sempre olhei o céu.
A propósito, você olhou o céu hoje?"

Reescrito dia 22 de Março de 2010.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Vagalume Vespertino

Avental sujo, cozinha quente mas limpa e ela lá, feliz por sua rotina, feliz por estar preparando o almoço para o marido e a filha pequena. Tudo estava tão bem, tão simples. Ela estava picando o alho pois a cebola havia acabado de picar quando foi surpreendida com a pergunta da filha
- Mamãe, o que os vagalumes fazem de dia?
Ela ficou estupefada - se é que esta é a palavra correta - com a pergunta. Ficou num primeiro momento paralisada como se a frase da filha fosse "Estátua! Te peguei de novo mamãe!", mas não foi.
Ela, como nova mãe que era, mãe de primeira viagem melhor dizendo, sabia que um dia este dia chegaria, o dia em que a criança faria uma pergunta difícil de responder, mas não esperava que fosse assim, que fosse hoje, que fosse esta.
Ela, esperta que só ela, havia se preparado para tais perguntas difíceis, lendo livros com bebês na capa que parecem de auto-ajuda e perguntando para amigas, mas ela se preparara para as perguntas difíceis mas normais como "de onde os bebês nascem?", "porque eu não tenho um pipi?", "o que aconteceu com o vovô? Ele não vai mais acordar?", "o que é sexo?" "socorro, to sangrando!", etc... Havia pesquisado e pensado no melhor modo para responder a cada uma destas perguntas, afinal, sua filha parecia ser esperta e bem curiosa e estas perguntas não tardariam a chegar.
Inocência. Não a da criança em fazer tal pergunta, mas a da mãe em achar que a perguta seria seria simples como uma destas, mas como se responde a uma criança "o que os vagalumes fazem de dia"?
"Esta garota vai fazer faculdade, e digo mais, de filosofia!" - pensou a mãe.
A mão percebeu que estava lacrimejando, não sabia se pelo desespero da pergunta filosófica ou se pela cebola que já estava cortada, e isto a deixou mais perdida ainda, pois estava com a mão suja para enxugar.
Filosófica, sim, pois "o que fazem os vagalumes de dia?" indica reflexão semelhante a "se uma árvore cair num lugar sem ninguém para ouvir, ela fará barulho?", afinal, vagalumes não são vistos durante o dia, será que eles existem durante o dia? Existem mesmo a garota nunca os tendo visto de dia? E se sim, o que eles fazem afinal? Escondem-se sobre um simples vagalume de dia questões existênciais, pura filosofia.
A mãe, ainda parada com a bora entreaberta como quem vai dizer algo mas não lhe sai uma palavra ou como quem simplesmente está boquiaberta com a pergutna, olha a filha parada em frente a ela com os grandes olhos abertos ao lado do fogão.
- Filhá, sai de perto do fogão sai filha, e deixa sua mãe cozinhar que eu te explico isso que senão o arroz queima (isso porque ela ainda estava no alho, só o feijão estava no fogo ainda, mas tudo bem).
Que alívio para a mãe, que ficou observando como o pai responderia tal questionamento filosófico, afinal ele fez faculdade mas não foi de filosofia!
- Não dá pra saber o que os vagalumes fazem de dia porque a gente não vê os vagalumes de dia, mas deve ser porquê eles dormem de dia.
- Dormem de dia?
- É, quenem as corujas e os morcegos.
- E de noite?
- Ficam acordados.
- ...
- Você dorme de noite e fica acordada de dia. A coruja, dorme de dia e fica acordada de noite.
- Mas eu já vi um vagalume de noite, e eu tava acordada.
- Sim, sim. As vezes a gente fica acordado de noite, e aí você viu o vagalume. Do mesmo jeito, podem existir vagalumes que ficam acordados de dia, mas fica difícil de enxergalos né.
- É, porque tá didia e o sol faz um montão de luz e o vagalume faz só um pouquiiiiiiinho de luz na bunda.
- É, mas eu já vi um vagalume de dia.
- Já?
- Sim, mas poucas vezes. É mais difícil de ver né, tem que dar sorte e prestar muuuita atenção. Eu os chamaria de vagalumes vespertinos. Soa até bem. São vagalumes que tem hábitos diurnos, ou melhor dizendo, vespertinos. Seriam os vagalumes que acordam um pouco mais cedo que os outros, antes de anoitecer e ficam por aí, passeando despercebidos, observando as pessoas, seus costumes, situações, suas relações, suas loucuras de amor, suas conversas, suas maluquices e genialidades, tudo isto estando praticamente invisíveis aos olhos humanos. Seriam observadores eles. Observadores da vida. Observam sem serem observados e pode ser um momento especial para alguém percebê-los observando.
O pai olhou para a filha e viu que ela já não estava prestando atenção faz tempo, rindo imitando uma abelha... talvez um vagalume que zuni... Uma vespa! Isso, um vagalume-vespa, talvez por causa da palavra vespertino, que pra ela não significa nada.
O pai pega seu caderninho e começa a fazer anotações.
...






E a mãe, ainda parada observando tudo que se passava descobre de onde a criança puxou todos estes questionamentos filosóficos.






- AI O FEIJÃO!!!